Ela não olhou para trás.
Abriu as grades enferrujadas que mantinham presas
a prosa, o verso, a poesia e todas as palavras
que carregavam, despretensiosas, a sua salvação, a sua libertação,
a sua fuga da ausência de elementos dóceis e afáveis.
A falta de tais elementos num relacionamento pode causar efeitos colaterais que — se não tratados de forma sutil — podem ser irreversíveis ao coração. E as suas palavras seguiram, pelo corredor instalado em sua garganta, cabisbaixas e soltando pétalas encarnadas com cheiro de naftalina por todo o percurso. A pena daquelas suaves palavras era a morte, e a morte delas significava o seu padecer voluntário e, talvez, eterno. E então, depois de atravessarem o corredor inteiro, sentaram-se no chão e entreolharam-se, como se procurassem, umas nas outras, uma resposta, uma nova chance de sentirem o brilho que espalhavam pelos ares, o efeito mágico que provocavam nele. Não encontraram respostas. Fecharam os olhos com força, esperando pela hora fatídica, o momento em que seriam esmagadas na garganta para sempre e passariam a ter outra entonação, outra espessura. E, no último segundo, ela tomou um impulso, como se fosse um animal lutando pela sobrevivência e libertou as palavras que, até então, estavam condenadas. E elas saíram luminosas e dançavam como se fossem bailarinas sentindo a emoção de pisarem ao palco pela primeira vez — que é a mesma até a última — e davam piruetas... Nesse momento, pouco importava se seriam recebidas com o desdém causado pelo tempo — as palavras dele para ela nunca foram tratadas com desdém. Desde o primeiro até o último dia eram como aquelas bailarinas na estreia. E ela sempre colocava as palavras dele na moldura e depois ficava olhando admirada, desde sempre, o tempo não havia mudado isso —. Ela refletiu, enquanto as suas palavras seguiam para o sacrifício, que não poderia embrutecer-se por causa de um coração endurecido. O dela não era igual e nem deveria ser imitado para que ele sentisse na pele o que acontece quando as palavras da parte mais bonita são pronunciadas e são recebidas com um escudo; batem e caem machucadas. Não seria ela se agisse assim e as suas palavras não seriam aquelas, não teriam a sua essência. As palavras estavam, enfim, livres e a sua liberdade viria junto, por ela ter se resgatado. E o seu corredor da morte interior foi desativado por tempo indeterminado.
[Não, ela não olhou para trás. Olhou para dentro. E as suas palavras jamais padeceriam, mesmo que ela padecesse em lugar delas.]
E ela agiu certo, ouviu a sua verdade.
ResponderExcluirLindo, Pérola! Cada vez mais adoro tuas linhas!
Um beijo!
A verdade sempre prevalece....
ResponderExcluirSua escrita é sempre muito bela;
Abraços no coração...
Agradeço sua visita e comentários sempre muito carinhoso
Preciosa Maria
Você escreve, lindamente, com o coração. Excelente texto, uma idéia preciosa muito bem desenvolvida, envolvente e delicadamente forte, assim como vc me parece ser.
ResponderExcluirEncantamento.
Beijos, meu doce, e parabéns.
Olá Pérola
ResponderExcluirNo fim, a verdade sempre prevalece, não conseguimos construir nada em cima de mentiras.
Bjux
"E as suas palavras jamais padeceriam, mesmo que ela padecesse em lugar delas."
ResponderExcluirIntenso e bonito!
A nossa verdade deve prevalecer sempre!
Beijos, querida!
Gosto da maneira como você escreve. Vir aqui, é um prazer renovado continuamente.
ResponderExcluirBeijos meus.
Texto emocionante, Pérola!
ResponderExcluir"E elas saíram luminosas e dançavam como se fossem bailarinas sentindo a emoção de pisarem ao palco pela primeira vez — que é a mesma até a última — e davam piruetas"
É exatamente assim que sentimos quando algo tem significado e beleza para nós. A palavra "beleza" aqui no sentido que Rubem Alves esboça no livro "Concerto para Corpo e Alma", não é por acidente que beleza rima com tristeza.
Sua escrita é bela porque ela é se contrapõe ao triste.
Um beijo!
Sua escrita é bela porque ela se contrapõe ao triste.
ResponderExcluirEu gostei muito desse texto. Acho que é um dos meus preferidos.
ResponderExcluirQuando se decide olhar em frente, o passado não importa mais.
Abraço meu.
Oiiie! tem selinho pra ti
ResponderExcluircom muito carinho que lhe ofereco ^^
Beeeeeeeeeeeeijo =*
E é dentro que podemos encontrar as melhores e as mais doces palavras.
ResponderExcluirProfundidade sem tamanho...
Lindo texto!
Abraço, Pérola.
Bom mesmo é quando libertamos as palavras...
ResponderExcluirBelíssimo, Pérola!
beijão!
"E elas saíram luminosas..."
ResponderExcluirAs suas palavras são luminosas, assim como você, Pérola luz!
Um abraço.
Que as suas palavras sempre brotem repletas se sua essência. É sempre um prazer ler-te!
ResponderExcluirUm beijo.
Oi, lindona! Que bom voltar aqui!
ResponderExcluirTeu texto...o que dizer? Lindo demais, senti cada letra aqui, porque se encaixa com perfeição no meu momento atual.
Aliás, nesses últimos dias venho descobrindo novas formas de libertação e vertentes diferentes nas que eu já conhecia, como no ato de escrever, por exemplo.
Beijo, beijo.
ℓυηα
Que bonito, e na dor é preciso força pra gritar, pra não deixar que emudeçam as palavras...certos silêncios só nos fazem perenizar a dor..as palavras extravasam o que sentimos , limpam, amenizam, são magias , a melhor forma de terapia...em nós....e a menina sabe bem disso, e mais do que saber tb ensina né!
ResponderExcluirUm carinho a ti minha flor...
Erikah
"Não, ela não olhou para trás.
ResponderExcluirOlhou para dentro."
Profundo.
Beijo,
Doce de Lira
Elas sempre agem certo. Sempre sem escudos, armaduras, relutância.
ResponderExcluirDizer que é lindo é repetição, mas está lindo o texto. eheh
Parabéns Pérola.
Beijos.
A doença é uma palavra amordaçada. Soltemos as nossas, então.
ResponderExcluirBeijos
Como diria meu Rei Guimarães Rosa
ResponderExcluir"Vamos, senão a coragem estraga."
Deixe-me ajeitar teus cabelos, lhe colorir a face para que vista aquele seu vestido de chita.
Quero que esteja linda, para receber a alegria que está para chegar.
Te abraço com amor.
TUDO BEM PEROLA ANJOS?
ResponderExcluirO QUE ABUNDA EVENTUALMENTE, ESCASSEIA.
Este é um título perigoso, pois a colocação da virgula é tão imprescindível como a vestimenta de um astronauta, nas suas viagens espaciais.
Mas, indo objetivamente ao assunto e sem maiores churumelas ou subterfúgios , sempre gostei muito de pássaros , mantenho as gaiolas absolutamente, limpas, comida farta e água renovada.
Antes, não suportava a idéia de admitir um pássaro em cativeiro, com todo o espaço do mundo à sua disposição, o céu azul infinito e ele ter que ficar trancafiado.
-Como minha senhora? A senhora se sente assim, no seu casamento?
Perdoe , mas contente-se ao lembrar que um astronauta dentro da cápsula espacial ...
SE VOCÊ CONSEGUIU GOSTAR (RS), LEIA INTEGRALMENTE NO MEU BLOG DE HUMOR:
"HUMOR EM TEXTO".
LÓGICO, VÁ SE QUISER, MAS VÁ (RS).
PELO AMOR DE DEUS!!!!!!!!!!!!(RS).
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
É sempre tao bom ler o que divides conosco.
ResponderExcluirSempre tao intenso e verdadeiro.
Faz-me um bem danado!
Perdoa a ausencia. Mas sempre que tenho um tempinho venho acarinhar meus potinhos de acucar.
Um final de semana lindo e pleno de paz e sorrisos
Sopros de alegrias pra ti! :)
Pérola!
ResponderExcluircorredor da morte interior desativado
palavras soltas em grito de lib(v)erdades...
te ler me traz ideias e reflexão, além de gostar muito do teu estilo.
Um beijo poético
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br
oi.. adorei seu blog e seus textos.
ResponderExcluiraparece lá no meu http://otaviomsilva.blogspot.com/
Bju
PS: seguindo vc
Obrigada pela jóia deixada em meu cantinho ;)
ResponderExcluirO seu é belo e que texto lindo!...
As palavras, os sentimentos... tudo muito sensivel e poético!...
Beijos =)
Que lindooo texto!!!
ResponderExcluir:)
Você emociona,Pérola...
Tem um jeito tão lido de escrever!
Mil beijinhos!
Eu tive uma sequência de mil arrepios por segundo ao ler este texto, ler não, sentir este texto.
ResponderExcluirIncrível como ele tem de mim!
Menina que coisa linda!
Beijo.
Oi Pérola
ResponderExcluirLindo conto das palavras. Uma visão maravilhosa sobre pequenas "pérolas" que por muitos não são valorizadas...
Obrigado pela visita e volte sempre..
Beijo
necessario rápido fugir, correr, desse corredor da lenta morte interior.
ResponderExcluirVocê me impressiona com tua poesia em prosa e verso.
Pérola, quero compartilhar com você mais um selinho.
ResponderExcluirVocê merece!
Forte abraço.
To querendo ler outro post seu... rsr... cadê vc?
ResponderExcluirBeijokas.
Olá Pérola
ResponderExcluirTudo bem?
Vim agradecer a visita..e conhecer aqui.
Lindo...
Apareça..apesar de eu estar meio sumida por lá.
beijo
Faxina
As palavras libertam, têm chaves, abrem grades, destroem corredores da morte. A palavra é vida e faz renascer...
ResponderExcluirAs palavras de vocês têm vida, sabedoria, beleza. Obrigada por cada palavra deixada aqui.
Beijos!
Muito lindo tudo por aqui , Pérola !!!
ResponderExcluirUm lindo sonho lilás ...
BjO com Carinho.