domingo, 27 de junho de 2010

Inverno é fogo!

Temporada de frio lá fora
e incendiária aqui dentro
Estação dos arrepios
da pele e da alma

As baixas temperaturas provocam o arrepio da pele, este percorre um vasto caminho, passando pelos lugares mais sensíveis. Neste ponto, o que era frio já se aqueceu e as geleiras, nesta inversão térmica interior, são derretidas e provocam avalanches em toda a extensão dos sentimentos, que ficam à flor da pele e arrepiam a alma. E no decorrer de todo este processo, contraditoriamente, saem faíscas por todos os poros.

Nos dias de frio, não é só o corpo que precisa se aquecer mais, infinitamente, o coração também.

Em dias frios e de chuva os sentimentos parecem ganhar superpoderes: a carência grita, a saudade lateja, o coração range os dentes, o sangue vira brasa.

[É fogo!]


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sonhos que vão além

Eu tive um sonho. O país inteiro estava unido

Na mesma euforia, na mesma vibração

Onde quer que eu passasse só tinha alegria

E todos num só grito e dadas as mãos

Eu não sabia ao certo o que acontecia

Mas juntei-me a todos e festejei

Enfim, somos todos iguais

Em dignidade e direitos – pensei

O barulho vuvuzelante

Marcava o momento maior

Era um gol. Acordei. Não era um sonho

Era só uma copa do mundo, só!

Também sou brasileira e vou comemorar

Mas espero, um dia, ver o meu sonho se realizar

Apenas noventa minutos

Foi essa a duração

Mas o sonho – ah, o sonho! – esse não se acaba não.


[E depois dos quarenta e cinco do segundo tempo, tudo continuou como antes... O sonho também.]


segunda-feira, 14 de junho de 2010

A poesia da vida

A vida provoca os meus sentidos
Tenho sensações
Através do que e como sinto
Provoco sensações
É tudo uma questão de sentir...

Quando digo a vida, me refiro à poesia da vida. E a poesia da vida está em tudo aquilo que toca a alma.

Pode estar nas pessoas, nas flores, nos lugares, no mar, no pôr-do-sol, nas palavras que são ditas e até mesmo nas que não são.

A poesia da vida pode estar num olhar, num bombom de chocolate, nas gotas de chuva, numa taça de vinho, num papel de bala dentro do caderno, nas fotografias desbotadas, num bilhetinho em um mero papel de pão, num álbum de figurinhas que não se completa nunca.

Na intensidade da alegria e da tristeza, nos choros e sorrisos largos, nos abraços inteiros, na música, nas lições da natureza, nas noites em claro, nos dias escuros e nos raios do sol.

A poesia da vida está na amizade, no amor, no sexo, no aprendizado, nos segredos, nas gentilezas, na sede de viver, na despedida, no afeto e nos desafetos.

Em coisas que para alguns podem ser insignificantes, ínfimas, passar despercebidas, mas que tocam tão profundamente o coração e ganham uma extensão imensurável na alma; mexem com cada centímetro da emoção, fazem suspirar, arrepiam lá dentro mesmo, sabe?

Aí que está a poesia, naquilo que toca a alma, no arrepio da alma.

[É tudo uma questão de sentir...]


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Das saudades que arrancam pedaços...




“Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade
dói como um barco
Que aos poucos
descreve um arco
E evita atracar no cais.”

[do imenso, Chico]


[A saudade é a dor pelo que se foi, mas que vive lá dentro. Vez em quando a dor lateja intensamente, parecendo querer se fazer lembrar, como se fosse possível esquecer. Têm pessoas que nunca se vão. Têm pessoas que deixam pedaços. Têm pessoas que levam. Têm pessoas que se tornam pedaços de nós e cortar um pedaço da gente dói tanto... ]



[Zizi Possi e Chico Buarque cantam:Pedaço de Mim-Chico Buarque]

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Das marcas que latejam vezenquando

O que fazer pra tirar um grande amor do coração?
Existe uma fórmula? Claro que não existe.
Se houvesse fórmulas, alguém escreveria um livro
revelando o tal segredo e seria um “Best Seller
e ninguém mais sofreria as suas consequências.

No amor nada é exato, muito menos os efeitos provocados por ele: as imensas alegrias, as dores desmedidas, o brilho nos olhos, a sensação de flutuar, os suspiros profundos, os delírios, os devaneios, as desilusões. Tudo no amor é incerto e intenso, ninguém sai de um grande amor da mesma forma que entrou, ninguém sai ileso. O amor parece que tem uma lança afiada nas mãos e sai dilacerando tudo o que vê pela frente, e deixa marcas, algumas muito profundas.

O que fazer para apagar estas cicatrizes e completar o coração de novo, ou verdadeiramente dessa vez? Como tirar esta tatuagem, esta marca que quer ficar pra sempre grudada nos lugares mais sensíveis da alma e lateja feito louca vez em quando?

Logo te julgam de fraca, de boba melancólica, e logo te apresentam fórmulas mágicas: “É só arrumar um novo amor; basta você sair pegando todos por aí; caia na gandaia e bote a fila pra andar...”

Parece tão fácil! E eu acho até que funciona para alguns, mas, usando um clichê dos médicos, eu diria que é como um remédio, nem sempre o que serve para o outro, servirá para você. Cada um tem seu tempo, cada um reage de uma forma e a resposta à cura depende da profundidade da cicatriz de cada um. É claro que esses paliativos funcionam, mas só amenizam.

A cura só é completa ou está próxima, quando você sente que o seu coração está livre, não dói quando você pensa, não fere quando você lembra, ou não, pode até doer, ferir, mas em menor intensidade, já não incomoda tanto. Quando já se consegue sentir que é possível amar outra vez, se entregar, sem medo das novas possíveis marcas.

É tudo tão relativo... Como eu falei, não existem fórmulas. O amor é complicado e nós tanto quanto ele. Na verdade eu não sei se é o amor que nos complica ou se somos nós que o complicamos.

Eu quero o meu coração lisinho de novo, suave e cheio de sonhos. Nada como ter o coração livre! E depois que ele está livre o que acontece? Começa tudo de novo...

Tomara que seja diferente da próxima vez!

[Sem cicatrizes, se possível!]


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Help-me!

“Socorro! Alguém me dê um coração
que esse já não bate nem apanha
Por favor! Uma emoção pequena, qualquer coisa!
qualquer coisa que se sinta...

[Arnaldo Antunes]

[Preciso voltar a sentir, preciso de um coração que me faça sentir. Se precisamos tanto de outro coração, por que Deus não nos fez logo com dois de uma vez? Socorrooo!]


[Cássia Eller canta: Socorro - Arnaldo Antunes/ Alice Ruiz]

Voa, amor, voa!

Deixa voar... ele volta!

Quanto mais amor a gente distribui, mais a gente recebe.

[Espalhe!!!]


domingo, 6 de junho de 2010

Segundo Batismo ou Saindo do Casulo

Ganhei este lindo e forte nome
— ou apelido, codinome, pseudônimo. Como quiserem —
quando fazia uma das minhas grandes paixões: a dança.

De cara me apaixonei, até mesmo porque a forma que fui rebatizada foi tão sublime e marcante pra mim!

Tive a sensação de renascimento, de tirar uma capa e mergulhar na vida de cabeça, deixando para trás toda a dor, e tendo como combustíveis primordiais as minhas raízes, o amor das pessoas e pelas pessoas que sempre foram verdadeiras em suas palavras e sentimentos e os valores que conquistei ao longo do meu agridoce trajeto.

Eu estava como uma borboleta presa num casulo, com uma vontade enorme de mostrar as minhas asas coloridas e encontrei na dança uma espécie de válvula de escape. Mas, quanto mais eu me dedicava, dava o meu suor e quanto mais todos me elogiavam, tão mais a professora me desdenhava, fazia pouco do meu talento, me colocava pra baixo, e eu sofria muito com tudo aquilo, mas todos os dias eu voltava com mais força, mais garra e com mais vontade de mostrar a minha arte em movimentos ora fortes e expressivos, ora leves e delicados, a arte que traduz emoções através do corpo.

Se fosse em outros tempos, acredito que eu nem voltaria a subir as escadarias daquele simpático teatro localizado no Pelourinho, ou simplesmente, Pelô - como nós baianos carinhosamente o chamamos - e adentraria àquela sala onde eram ministradas as aulas de dança, mas a paixão que eu tinha adquirido pela dança, juntamente com o meu desejo de renovação, de mudança, me fortalecia tanto. E cada vez mais eu sentia as minhas asas crescerem...

E certo dia, no ensaio final, alguns professores de dança, colegas da minha, foram convidados para avaliar o resultado final da coreografia, e quando eles me viram dançando, disseram admirados: “O que é que esta pérola está fazendo escondida lá atrás? Escondida em termos, porque nem que ela quisesse conseguiria se esconder. Ela brilha!”

Que nobre momento! Nunca esqueci nenhuma daquelas palavras que fizeram bater tão forte o meu coração, caírem as minhas lágrimas e fortificarem a minha alma – sem exageros. Confesso que sou um tanto vaidosa, mas naquele momento não foi a vaidade que falou mais alto, foi muito mais que isso. Senti naquele exato momento que o casulo tinha se rompido de vez e tive até a leve impressão de ter flutuado um pouquinho – coisas da felicidade.

E a partir daí, tudo mudou, a professora me disse que já via o meu talento há muito tempo, mas teve os seus motivos pra agir assim e trá lá lá... Ganhei até um solo, vejam só!

Mas o que eu ganhei de verdade foi o meu novo nome, que pra mim significava tanta coisa: autoconfiança, perseverança, superação, coragem, determinação, força... Coisas que eu nem sabia que eu tinha. E me senti tão leve...

E todos os colegas da dança começaram a me chamar de pérola, e logo, todos os amigos, conhecidos, todos.

E o que era minúsculo ficou maiúsculo, pérola virou Pérola. Não mais um substantivo adjetivado, mas um substantivo próprio, bem próprio, bem meu, bem eu.

E é este o nome que eu me apresento por aí.

E é assim que eu gosto de ser chamada.

Pseudônimo? Codinome? Apelido? Não, não. Muito mais que isso. Muito mais.

[Pérola, prazer!]


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