
Um rio com diversas águas,
correndo de diversas formas,
um rio que separa as suas águas,
um rio que forma, deforma.
Um rio que só olha para o próprio umbigo,
um rio onde os que não são vistos
são os mais percebidos.
Um rio que fere, que mata,
que segrega, que maltrata,
contrastando com um rio que encanta,
um rio de belezas tantas.
Um rio, uma cidade maravilhosa,
que chora um rio de lágrimas
e que se afoga nas próprias,
no próprio descaso.
Um rio que chora um rio,
por ter deixado tantos ao acaso.
Um rio ao léu,
que coloca óculos escuros
e olha o outro rio
por cima de um arranha-céu.
Um rio que quer tanto dizer: Eu rio!
E abrir os braços como o Redentor.
Um rio de sambódromo,
imerso num rio de dor.
Um rio de cartão-postal,
que aponta as suas armas,
que recolhe as suas asas
e se prende no próprio quintal.
Um rio azul de olhos vermelhos,
que não consegue enxergar
o próprio reflexo no espelho.
Um rio que perde o caminho
e segue o seu curso,
sem lei, sem pulso.
Um rio dentro do rio,
que muitos tratam como água e óleo,
mas que, fatalmente, se misturam,
apesar de tantos desvios.
[Que o Rio encontre as suas águas calmas. Que ria o Rio!]
